16 de outubro de 2012

Pão e Cultura na Antiguidade

(ilustração: Vanessa Reyes)
     A concentração de pessoas em áreas densamente povoadas e o surgimento do pão e o uso de grãos como a principal fonte de alimento teve imenso impacto na cultura da antiga Grécia e do Egito, e para a maioria das comunidades europeias emergentes. Ao satisfazer suas necessidades mais imediatas, a população dessas regiões adotou um estilo de vida mais sedentário e urbano, abandonando, assim, o que era considerado "o estilo de vida bárbaro" (Frandrin & Montanari, 19999, p.69).
     O reconhecimento da civilização na Grécia e no Egito foi determinado pelo que as pessoas comiam.         O padrão necessário para sustentar essa cultura civilizada foi definido como "o convívio, o tipo  de alimentação consumida, a arte culinária e as regras dietéticas" (ibidem, p.69). O convívio, ou a interação  entre grupos sociais, promoveu a comunicação e a identidade grupal, ao mesmo tempo que o tipo de alimento consumido por um grupo específico criava uma identidade que os separava dos demais. Para gregos e egípcios, a produção de pão tornou-se o símbolo do que significava viver numa sociedade civilizada. No Egito, acreditava-se que "aquele de barriga vazia é quem reclama" (ibidem, 1999, p.2). Barriga cheia garante a ordem.
Pães e bolos também desempenharam um papel importante na vida religiosa. No Egito, durante os funerais e os sacrifícios, por exemplo, túmulos eram abastecidos com doce para que o defunto os consumisse após a morte, e bolos e pães eram frequentemente oferecidos aos deuses. De acordo com alguns relatos, Ramsés III oferecia anualmente 9 mil bolos e 200 mil pães aos deuses (Bachmann, 1955, p.2).
     Igualmente importante, o atendimento das necessidades nutricionais básicas significava mais tempo disponível para o aprimoramento intelectual e social. A Grécia e o Egito foram os mestres pioneiros da filosofia, das artes, da construção e da agricultura. A partir da Grécia, a arte e a ciência da panificação seguiram para Roma, tornando-se parte dominante da cultura durante o Império Romano, abastecendo exército e a população em geral. No ano 100 d.C., o imperador Trajano criou uma guilda de padeiros que deveria oferecer pão para a população à custa do Estado. Ao manter  os mais pobres alimentados, Trajano tinha o controle sobre a ordem social de maneira muito semelhante ao que os egípcios haviam feito antes (Montagné, 2001, p. 66).
Panificação e Viennoiserie - Abordagem Profissional - Michel Suas

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